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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O que há no Poderoso Chefão?


Se há algo certo nessa vida, se a história nos ensinou alguma coisa, é que se pode matar qualquer um.”

Acho que uma das maiores, senão até mesmo a maior trama policial de todos os tempos, é, sem dúvida, The God Father. A saga dos gangsters de Nova Iorque teve maestria na produção para o cinema, com um roteiro inteligentemente adaptado e atuações no mínimo impressionantes, como a interpretação de Marlon Brando do inesquecível Don Corleone. Mas, o que há além do sucesso cinematográfico da história, o que há de tão especial na saga d’O Poderoso Chefão - título nacional - que o tenha transformado no imaginário de gangster mais popular do século XX?

Antes de tentar responder qualquer coisa ou levantar qualquer outro questionamento, vou fazer um pequeno resumo do roteiro básico, caso você ainda não tenha assistido à trilogia de The God Father – e se você aprecia bons filmes com ótimas atuações, uma boa trilha sonora e tudo mais, esse é um daqueles que não podem faltar na sua lista, tá?

Vito Corleone – Marlon Brando – éo chefe de um dos maiores grupos mafiosos de Nova Iorque. Possui uma vasta teia de influência, que alcança desde donos de pequenos comércios espalhados pela cidade até senadores e juízes comprados. A ‘família’ Corleone é uma das maiores entre as que dominam o capital no submundo, é respeitada e, até certo ponto, temida. Don Vito, ou O Padrinho, como é mais conhecido, construiu em torno de si um império todo baseado na troca de favores, em ameaças indiretas e na compra de cargos políticos de seu interesse. Até aí não há nada que justifique o estado de ícone no qual o personagem foi transformado. Até aí.


O núcleo social da ‘família’ é extremamente machista e patriarcal: a mulher é um ser sensível e frágil demais para responder por si mesma seus próprios atos. Todos vivem sempre sob o olhar avaliador do Homem da Casa. Logo, podemos concluir que Vito é mais do que simplesmente um chefe, é um líder, um ponto máximo na cadeia hierárquica dos Corleone, e deve ser respeitado como tal. Contou com a sorte de um moleque franzino ao fugir de Corleone, Sicília, sem pai nem mãe nem qualquer família, todos mortos pelo chefe do tráfico local, e chegou à América com a condição de viver mais do que com a sorte.

Descobriu, com nada além de astúcia, que as pessoas se relacionam socialmente num sistema de pedido de favores e no pagamento desses, e que para que as pessoas façam o que você quer basta oferecer algo tentador o bastante, algo a que não se possa dizer não. Basta, no fim de tudo, fazer uma proposta irrecusável. Nunca ameaças, nem agressões diretas, uma boa primeira impressão deve bastar. E se isso não for suficiente, se toda a educação e vocabulário respeitoso não convencer, digamos que há outras formas eficientes de convencimento – e terrivelmente desagradáveis para quem as estiver recebendo. E sob essa lógica há uma das melhores cenas entre os três filmes.

Mário Puzzo – o autor do livro que deu origem aos filmes – foi extremamente perspicaz ao pensar o perfil de Don Corleone, afinal. Trabalhador, respeitador da família e dos costumes da igreja. Um indivíduo benfeitor, educado, culto. O Don foi transformado num tipo de vilão elegante, um populista que ajuda os amigos, cobrando em troca nada além da devolução do favor, algo que talvez nunca seja pedido, e alguns gestos que demonstrem respeito.Nada além de respeito e gratidão.

Vito Corleone tem o perfil de personagem que vai contra aquilo que – achamos - que a humanidade deve seguir, não é? É corrupto e assassino, líder de um grupo mafioso e responsável por diversos crimes fiscais. É um verdadeiro fora-da-lei. Mas, ainda assim, consegue a aprovação e o carinho do público. Por quê?



Como explicar que um assassino ganancioso consiga cativar tanto assim as pessoas, e ganhe ainda um tipo de admiração que vai além do espetáculo das telas? É justamente a forma como enxergamos o personagem: vemos um indivíduo carismático e justo – entendamos justo como aquele que não atinge de forma direta os inocentes -, religioso e que inspira medo e respeito, além de tudo. Você já parou para se perguntar por que, mesmo com toda uma campanha contra a corrupção, ainda há tantos corruptos governando o país? A resposta vai muito além de “porque todo político é ladrão!”, ou “porque o povo não tem memória política, e não sabe votar!”. Está na forma como enxergamos a política, na forma como a maioria entende que um governante deve trabalhar. O problema está na nossa forma de avaliar o que é válido para quem vai representar a população.

 O que impera no país, em todo o contorno do Estado, é o populismo. É uma receita simples, e funciona muito bem. O Sarney, o Jader e o Maluf são grandes nomes da corrupção nacional – A Justiça Federal determinou que Paulo Maluf devolva 21,3 milhões ao Estado até o final de outubro, sem direito a recorrer. Você viu o que eles fazem da vida, mesmo após tantas acusações e tantos processos? Estão no poder, treinando futuros substitutos para seus cargos. Candidatam-se, se elegem e se mantêm ali mesmo.

 E é assim que funciona. Don Corleone é o personagem do populismo; todas as falhas e toda a corrupção ficam encobertas por uma figura aparentemente generosa e respeitadora, alguém que ergueu para si próprio um altar, para que todos possam adorá-lo. É assim que funcionam os populistas, tanto os da vida real quanto os dos romances policiais: Colocam suas imagens no topo, acima de qualquer acusação, acima de qualquer força de lei e, assim como os gangsters dos romances, constroem um império particular com falcatruas e mentiras, compras de cargos e muita corrupção – ou será que eu estou enganado, e todos chegam ao topo porque são ótimos governantes?

 Um personagem que foge da condição de mocinho romantizado, injustiçado e sofredor; criado para ser amado e temido, esse é Vito Corleone, O Padrinho, o Don, o Populista. O Poderoso Chefão.

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